CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO

Indústria calçadista deve crescer menos em 2023

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A indústria calçadista brasileira deve ter uma desaceleração gradual de crescimento entre o fim deste ano e 2023. Segundo projeção da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), apresentada na tarde desta quarta-feira (9) durante a divulgação da Análise de Cenários, o crescimento na produção de pares deve ficar em 1,6% no próximo ano – abaixo do visto em 2022, que deve ter incremento de 4,7%.

“Esta projeção de 1,6% mantém tendência de crescimento superior a outros setores e frente a economia brasileira, que deve ter PIB de 0,6% no ano que vem”, observa a coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, Priscila Linck, que apresentou os dados do setor ao lado do economista Marcos Lélis, que falou sobre as projeções dos mercados mundial e brasileiro.

Entre os motivos para um crescimento mais tímido estão o cenário econômico mundial, que inclui processo inflacionário e conflito no Leste Europeu, o que reflete nas exportações e reduz o poder de compra do consumidor ao impactar bens de consumo não essenciais e a retomada gradual da China no mercado externo. “O movimento de retomada da China tem um reflexo nos nossos principais destinos que são EUA e Argentina. Conforme a China volta a ter participação no mercado externo, aumenta nossa concorrência, especialmente frente aos EUA”, ressalta Priscila.

Exportações
Este ano, o crescimento do setor calçadista foi puxado pelas exportações, especialmente com os embarques para os Estados Unidos e Argentina. A expectativa para 2023, é que as exportações cresçam 15,4%, uma retração em comparação ao ano de 2022 que deve atingir 16,6%. “Estamos projetando uma desaceleração no fim do ano e para o ano que vem. Mas a exportação ainda tem um peso na produção. Mesmo ficando em 15,4%, é uma projeção maior que a alcançada em 2019, quando atingiu 12,8%. Para 2023, com a desaceleração no mercado internacional deve aumentar o peso da importância da dinâmica do consumo do mercado brasileiro, da importação”, diz a coordenadora Inteligência de Mercado da Abicalçados.

Empregos
Mais de 310 mil pessoas estão empregadas na indústria calçadista. De acordo com Priscila, ao contrário da produção de pares, que não superou os níveis pré-pandemia, os empregos tiveram números mais expressivos do que visto em 2019. “Desde o ano passado, os empregos têm superado os índices pré-pandemia. Isso porque em 2021, e também este ano, se observou um aumento nas participações nas exportações, diferente do registrado em anos anteriores com concentração menor nas exportações brasileiras. Mudamos a pauta exportadora com mais calçados de couro e material têxtil que são tipos de calçados que demandam mais mão de obra”, explica Priscila Linck.

Cenário internacional e nacional
Segundo Lélis, a inflação mundial é uma das preocupações hoje e talvez defina o que acontecerá em 2023. “Há uma escalada inflacionária no mundo que já vinha ocorrendo com os problemas logísticos enfrentados em 2021, com cargas de navios parados e outros vários problemas na hora da retomada com a China abrindo e fechando suas fronteiras. E mais um evento, que foi o conflito Leste Europeu, que encareceu o custo da energia. A inflação não é algo visto somente no Brasil, ela é vista também em países desenvolvidos, como Alemanha, Reino unido, Itália e outros”, afirma o economista.

Com este cenário, em 2023 está prevista uma desaceleração em todo o mundo. “A previsão para o próximo ano é um PIB de 2,7% a nível mundial, o que seria o pior resultado dos últimos três anos. Se esperava que o degrau, que esta desaceleração de crescimento das economias, ocorresse na virada deste ano, mas já está acontecendo agora e reflete diretamente na nossa economia”, alerta Marcos Lélis.

A projeção do Índice de Atividade Econômica do Banco Central – IBC-Br é que haja crescimento no primeiro trimestre de 2023 de 0,1%, um índice praticamente nulo. Conforme Lélis, o que dificulta o crescimento da economia brasileira é o endividamento das famílias.

“O nível de endividamento atingiu um patamar histórico. Quase 80% das famílias se autodeclaram endividadas. Desta forma, sobram menos recursos para tomar crédito. Além disso, 30% dos brasileiros estão com dívidas em atraso e cerca de 85% tem dívidas com cartão de crédito, onde a taxa de juros é mais expressiva. Parte disso é explicada pelo o que houve com a inflação. O efeito da queda no valor da gasolina não foi para o diesel e é ele que gera o custo de transporte. O grande vilão da inflação é o alimento, as famílias têm comprometido sua renda com o básico”, comenta o doutor em economia.

O ajuste na atividade econômica a nível mundial pode mexer também nos preços dos calçados. “O processo de inflação nos EUA também é relativamente alto. Provavelmente haja uma queda nos preços de pares exportados, como os do Brasil e da China. Assim como o consumidor brasileiro está com problema de renda, nas economias avançadas isso acontece também. Entre o fim deste ano e início de 2023, devemos ter ajuste de preço médio do par exportado, deve cair um pouco o valor em dólar”, detalha o economista.

Setores
De março a julho deste ano, o Brasil cresceu economicamente, mas em agosto começou a apresentar desaceleração. “A economia brasileira entra, a partir de agosto, em um padrão de ajuste, como acontece na economia mundial”, diz Lélis. E o setor que puxou a economia nacional em 2022 foi o de serviços, que cresceu 8,4% entre janeiro a agosto deste ano.

“Quando começou o processo recuperação da pandemia tivemos primeiro o boom dentro da indústria. Quando a indústria começa a crescer, o comércio cresce também. O setor de serviços seguia com taxas negativas porque foi último a abrir. As restrições ao setor de serviços começaram a cessar apenas a partir do segundo semestre de 2021, e foi aí que começou a ter recuperação e entrou em 2022 muito forte, também pela expressividade de lazer e turismo que estão dentro deste setor.”

 

 

 

Por: VS
Crédito imagem: Freepik

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